Postagens

Mostrando postagens de março, 2022

Florianópolis, 349 anos

Ser um manezinho da ilha com consciência de classe é viver em eterna dissonância cognitiva. Metade de mim ama Florianópolis. É onde nasci e, junto com São José, onde me criei. Ainda criança, meus pais me levavam para andar no Centro da cidade, pular nas mesas da Felipe Schmidt, brincar no Parque Dona Tilinha (onde, em um domingo movimentado de 1991, baixei as calças e larguei um barro), jogar bola nas quadras do CDS da UFSC - e também no Beira-Valo e na Praça de Nossa Senhora de Fátima (valeu, vovôs!) -, comprar camiseta de time de futebol pirateada no Mercado Público (“é désh reásh!”), subir as dunas da Lagoa da Conceição (e, pelo menos uma vez, resolver descê-las correndo e dar de cara na areia) e comer picolé de brigadeiro no Ceisa Center. Na adolescência, Florianópolis foi onde enterrei meu avô, 0 Antônio Laguna do Philippi S.A., tijucano de nascimento e avaiano com muito orgulho. Ainda nessa fase eu descobri os sebos da João Pinto e da Hercílio Luz, fiz cursinho pré-vestibular, de

O chão de um é o teto do outro

É mais um ano de eleição e é mais um ano de pandemia, e decretos desobrigando o uso de máscaras são as novas obras. Os mesmos políticos que dois anos atrás posavam de bastiões da ciência ao promoverem vacinas e máscaras hoje posam de bastiões da “liberdade”, uma variante passiva do voto do cabresto que mira fisgar bolsonaristas relutantes. Se vai funcionar, não sei, mas agradou: um colunista social bolsonarista manezinho (o Peter Pan de nome achocolatado) celebrou o decreto, novamente falando em “liberdade” como se vivesse sob uma vigilância tirana. Aqui na região de Campinas e Kobrasol (bairros que celebraram a eleição de Bolsonaro como se fosse o hexa), menos de 10% das pessoas que vi hoje na rua e no mercado usavam máscaras. Nas redes sociais, amigos e conhecidos críticos do governo e cientes de que a pandemia não acabou postam selfies sorridentes em festas, bares e outras aglomerações. À primeira vista, é difícil dizer onde termina a responsabilidade do governo e começa a da popula

Lá vou eu, não fosse a graça da paciência alheia

Semana passada um deputado estadual de São Paulo decidiu ir à Ucrânia para fazer média com o seu eleitorado, chamando a viagem de “missão humanitária”. Ha! Além de se pintar como um João-sem-braço quanto às verdadeiras competências do cargo público que exerce, o deputado cometeu os dois maiores pecados políticos que existem: confiança e sinceridade. Arthur do Val mandou um áudio a um grupo de WhatsApp de amigos próximos no qual objetificava refugiadas de guerra, avisava a todos que elas eram mais fáceis que as mulheres de São Paulo por serem pobres e manifestava interesse em voltar futuramente à região para praticar turismo sexual. As implicações da mensagem não param por aí, mas eu paro porque meu estômago é fraco. Pois bem; o áudio vazou, a namorada te deu um pé na bunda, políticos de todas as faixas do espectro ideológico condenaram o conteúdo do áudio e nem os teus correligionários mais fiéis conseguiram passar pano, tamanha a desumanidade do teor da mensagem. Ah, e adeus candidatu